Pregação
ou Pagação?
Estava
atravessando a passarela outro dia, e em meio ao grande fluxo de pessoas
que transitavam apressadamente, eu me esbarrei numa mulher que
recitava em altíssimo som versículos da bíblia (às 7hrs da manhã em plena
passarela!). Ela parecia estar numa espécie de transe, e se denominava um
soldado de Deus na luta pela salvação. Algumas pessoas riam, outras
desviavam, algumas xingavam, e eu saí dali pensando sobre religião...
Discutir religião e futebol é sempre polêmico, mas, me arrisco aqui a um
breve desabafo. (que me perdoem os que discordarem do meu ponto de
vista!).
Esse
episódio que presenciei, e que se torna cada vez mais corriqueiro para quem
transita pelas ruas de grandes cidades reflete um fanatismo desmedido,
alimentado pelas religiões que comercializam a fé através da
promessa de levar soluções milagrosas para todos os problemas da
vida (e da morte). Sem um mínimo de questionamento, pessoas aceitam
regras absurdas impostas por personalidades que se dizem líderes religiosos,
tudo em nome de Deus e da boa moral. São milhares de pessoas que passam horas
em templos estudando “as palavras de Deus”, e que vão para suas casas, locais
de trabalho muitas vezes sem sequer conseguirem colocar em prática ensinamentos
básicos trazidos por Cristo como a compaixão, o respeito e amor ao próximo.
Aquela pobre criatura ( ao meu ver) que parecia estar
no limite da sanidade, é o retrato da falta de bom senso de instituições
religiosas ( salvo exceções) que formam robôs, em vez de contribuir
para o desenvolvimento de pessoas no caminho da consciência, no estímulo do
amor e alcance da paz interior . Entretanto, se o objetivo destas instituições
é formar soldados da fé na guerra pelo dízimo de cada dia, acredito
que eles estejam no caminho certo.
São grandes massas que ingressam em religiões,
e passam a seguir líderes que alimentam preconceitos, que
aprisionam em vez de libertar, que alienam em vez de esclarecer, que
manipulam em vez de guiar. Será que Nietzsche estava realmente louco quando
questionou o mundo sobre o verdadeiro propósito das religiões – afirmando
que o verdadeiro Evangelho morreu com Cristo na Cruz e que as religiões
foram instituídas como forma de controle e manipulação das massas? –
Seguindo o raciocínio de Nietzsche, os governantes viram que Jesus tinha
o poder de mobilizar multidões através dos seus discursos
espirituais, e enxergaram ali uma grande oportunidade . Depois que Jesus foi
crucificado, líderes políticos da época utilizaram a sua influência (de enviado filho de
Deus) para manter o controle sob o povo, e o cristianismo foi instaurado.
Com a religião, vieram as escrituras sagradas instituindo regras morais que disseminavam o medo, e traduziam um
sistema de punição diante de Deus e da igreja para os “pecadores” que as infringissem. Certamente Jesus não aprovaria a Guerra
Santa, nem obrigaria índios que viviam em paz nas suas tribos a se
converterem ao cristianismo para somente assim serem considerados
filhos de Deus, e serem aceitos na sociedade.
Vemos claramente condutas duvidosas de líderes religiosos
que vivem suas vidas longe de conceitos pautados no
verdadeiro legado espiritual de Cristo ( e outros “iluminados” que pela
terra passaram, como Buda, por exemplo). Eu vejo uma grande semelhança entre
esses ditos líderes religiosos e líderes políticos em campanhas
eleitorais: Luta pelo poder; Falsa moral ;Promessas incapazes de serem
cumpridas; Utilização de verba alheia em benefício próprio ;
Disputa acirrada para conquista de fiéis ; Propaganda; Manipulação
através de veículos de comunicação; Grandes eventos
institucionais.
O quero dizer com tudo isso é que cada um tem seu direito
de escolha. Há os que buscam por religião, há os optam por trilhar o caminho do
crescimento espiritual consciente. Cabe a nós respeitarmos o direito de
cada um na sua busca, seja ela qual for. Imaginem se todos
resolvessem fazer pregação nas ruas? Para mim, seguir o legado de Cristo
vai muito além de recitar versículos da bíblia e parecer um homem de boa moral
para sociedade, significa, antes de tudo, se auto transformar e colocar em prática
os seus ensinamentos: sendo compassivo, buscando a paz interior,
desenvolvendo amorosidade e o perdão, aceitando as diferenças e reconhecendo que
todos somos um. Se olharmos por esse lado, enxergaremos que a pregação
não passa de uma verdadeira “pagação”, porque para seguir um caminho
espiritual é necessário se auto-transformar, e esse é um trabalho muito mais individual que coletivo. Antes de querer melhorar o outro,
precisamos primeiramente nos melhorar! Se bem lembrarmos,
Jesus não levantou templos, não instituiu regras, não fundou religião
alguma! Ao contrário disso, trouxe ensinamentos através de suas
experiências. Portanto, vamos nos focar na nossa própria experiência e
deixar que outro siga na sua própria busca, ou permaneça onde está
caso queira.
Não
esqueçamos que na busca espiritual o diálogo deve ser com o nosso próprio eu. A
oração, deve ser para dentro de si e não para fora! Causar poluição
sonora, invadir a quietude e o direito de escolha do outro em locais públicos,
bater de porta em porta para levar a palavra de Deus não tem nada de
divino. Divino é resgatar a nossa essência divina, é sermos a mudança que
queremos para o mundo, é respeitarmos o direito e o espaço do próximo.
Infelizmente essas pessoas sé tornam vítimas pela falta de conhecimento.São envolvidas e atraidas pela emoção.As religiões que tentam buscar adeptos por interesses econômicos ou para que uns poucos tenham vantagens sobre uma maioria desenformada...Lamentavel.
ResponderExcluirParabéns pela postagem.
bjos