sábado, 26 de maio de 2012


Pregação ou Pagação?
Estava atravessando a passarela outro dia, e em meio ao grande fluxo de pessoas que  transitavam apressadamente, eu me esbarrei  numa mulher que recitava em altíssimo som versículos da bíblia (às 7hrs da manhã em plena passarela!). Ela parecia estar numa espécie de transe, e se denominava um soldado de Deus  na luta pela salvação. Algumas pessoas riam, outras desviavam, algumas xingavam, e eu saí dali pensando sobre religião...  Discutir religião e futebol é sempre polêmico, mas,  me arrisco aqui a um breve desabafo. (que me perdoem os que discordarem  do meu ponto de vista!).
Esse episódio que presenciei, e que se torna cada vez mais corriqueiro para quem transita pelas ruas de grandes cidades reflete um fanatismo desmedido,  alimentado pelas religiões que comercializam a fé  através da promessa  de levar soluções milagrosas para  todos os problemas da vida  (e da morte). Sem um mínimo de questionamento, pessoas aceitam regras absurdas impostas por personalidades que se dizem líderes religiosos, tudo em nome de Deus e da boa moral. São milhares de pessoas que passam horas em templos estudando “as palavras de Deus”, e que vão para suas casas, locais de trabalho muitas vezes sem sequer conseguirem colocar em prática ensinamentos básicos trazidos por Cristo como a compaixão, o respeito e amor ao próximo.
Aquela  pobre criatura ( ao meu ver) que  parecia estar no limite da sanidade, é o retrato da falta de bom senso de  instituições religiosas ( salvo exceções)  que formam robôs, em vez  de contribuir para o desenvolvimento de pessoas no caminho da consciência, no estímulo do amor e alcance da paz interior . Entretanto, se o objetivo destas instituições é  formar soldados da fé  na guerra pelo dízimo de cada dia, acredito que eles estejam no caminho certo.
 São  grandes massas  que ingressam em religiões, e  passam a seguir líderes  que alimentam preconceitos, que  aprisionam em vez de libertar, que alienam em vez de esclarecer, que  manipulam em vez de guiar. Será que Nietzsche estava realmente louco quando questionou o mundo sobre o verdadeiro propósito das religiões – afirmando  que o verdadeiro Evangelho morreu com Cristo na Cruz e que as religiões foram  instituídas como forma de controle e manipulação das massas? – Seguindo o raciocínio de Nietzsche, os governantes viram que Jesus  tinha o poder de mobilizar multidões  através dos seus  discursos  espirituais, e enxergaram ali uma grande oportunidade . Depois que Jesus foi crucificado, líderes políticos da época utilizaram a sua influência (de enviado filho de Deus) para manter o controle sob o povo, e o cristianismo foi instaurado. Com a religião, vieram as escrituras sagradas instituindo regras morais que disseminavam o medo, e traduziam um sistema de punição diante de Deus e da igreja  para os “pecadores” que as  infringissem. Certamente Jesus não  aprovaria a Guerra Santa,  nem  obrigaria índios que viviam em paz nas suas tribos a se converterem  ao cristianismo para  somente assim  serem considerados filhos de Deus,  e serem aceitos na sociedade.
Vemos claramente condutas duvidosas de  líderes religiosos que  vivem suas vidas  longe de conceitos  pautados  no verdadeiro legado espiritual de  Cristo ( e outros “iluminados” que pela terra passaram, como Buda, por exemplo). Eu vejo uma grande semelhança entre esses ditos líderes religiosos  e  líderes políticos em campanhas eleitorais: Luta pelo poder; Falsa moral ;Promessas incapazes de serem cumpridas; Utilização de verba  alheia em benefício próprio ;  Disputa acirrada para conquista de  fiéis ; Propaganda;  Manipulação através de veículos de comunicação;  Grandes  eventos  institucionais.
O quero dizer  com tudo isso é que cada um tem seu direito de escolha. Há os que buscam por religião, há os optam por trilhar o caminho do crescimento espiritual consciente.  Cabe a nós respeitarmos o direito de cada um na sua busca, seja ela qual for.  Imaginem se  todos  resolvessem  fazer pregação nas ruas? Para mim, seguir o legado de Cristo vai muito além de recitar versículos da bíblia e parecer um homem de boa moral para sociedade, significa, antes de tudo, se auto transformar e colocar em prática os seus ensinamentos: sendo compassivo,  buscando a  paz interior, desenvolvendo amorosidade e o perdão, aceitando as diferenças e reconhecendo que todos somos um. Se olharmos por esse lado, enxergaremos que  a pregação não passa de uma  verdadeira “pagação”, porque para seguir um caminho espiritual é necessário se auto-transformar, e esse é um trabalho muito mais individual que coletivo.  Antes de querer melhorar o outro, precisamos primeiramente nos  melhorar!  Se bem  lembrarmos, Jesus não levantou templos, não instituiu regras, não fundou religião alguma!  Ao contrário disso, trouxe ensinamentos através de suas experiências. Portanto, vamos nos focar na nossa própria experiência  e deixar  que outro siga na sua própria busca, ou permaneça onde está  caso queira. 
Não esqueçamos que na busca espiritual o diálogo deve ser com o nosso próprio eu. A oração, deve ser para dentro de si e não para fora!  Causar poluição sonora, invadir a quietude e o direito de escolha do outro em locais públicos, bater de porta em porta para levar a palavra de Deus  não tem nada de divino. Divino é resgatar a nossa essência divina, é sermos a mudança que  queremos para o mundo, é respeitarmos o direito e o espaço do próximo.



Um comentário:

  1. Infelizmente essas pessoas sé tornam vítimas pela falta de conhecimento.São envolvidas e atraidas pela emoção.As religiões que tentam buscar adeptos por interesses econômicos ou para que uns poucos tenham vantagens sobre uma maioria desenformada...Lamentavel.
    Parabéns pela postagem.
    bjos

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